Semeando um futuro melhor...

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terça-feira, 3 de abril de 2012

TEXTO FINALISTA – MEMÓRIAS LITERÁRIAS Entre Baldes e Fantasmas

Este texto faz parte de uma publicação com um texto introdutório do qual destacamos o seguinte fragmento:

“A edição contou com mais de 230 mil inscrições de professores, de 60.123 escolas, envolvendo assim, mais de 7 milhões de alunos, de 99% dos municípios brasileiros.
A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro vai além de um concurso: oferece propostas de formação dos educadores, seja nas orientações pedagógicas dos materiais oferecidos, seja na participação em encontros para reflexão sobre as práticas educativas, com o objetivo de aprimorar o processo de escrita dos alunos. Desse modo, pretende contribuir para uma prática pedagógica de melhor qualidade.
Valorizando a interação das crianças e jovens com a realidade em que vivem, a Olimpíada adota o tema ‘O lugar onde vivo’. Assim para escrever os textos, o aluno resgata histórias, estreita vínculos com a comunidade e aprofunda o conhecimento sobre o seu lugar. E isso contribui para o desenvolvimento de sua cidadania.
Esta coletânea reúne os textos dos alunos finalistas da edição 2010 da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Parabenizamos os novos escritores e os seus professores que tão bem apoiaram seus alunos e os ajudaram a descobrir a força que a escrita tem.”




Entre Baldes e Fantasmas


E.M.E.F.PROFª DILZA FLORES ALBRECHT
Sabrina de Souza Rozado - 7ª série
Professora Daniela Correa da Silva




Minha infância foi muito difícil. Trabalhava na roça para ajudar no sustento da família. Nós passávamos por momentos tristes: a falta de comida, roupa e remédios. Naquela época era comum que crianças ajudassem a família e com isso acabavam largando cedo os estudos.
Ah, os baldes! Esses me deram forças... (risos). Tínhamos que caminhar até um rio muito longe para pegar água que servia para nossa alimentação e higiene. Os baldes ficavam mais pesados a cada passo do interminável caminho. Mas, apesar das dificuldades, lembro-me desse tempo com muito carinho: o pedido de desculpas no olhar de nossos pais e os sonhos que tinham para o futuro.
Naquele tempo, o jeito de namorar também era diferente. Recordo que quando conheci meu marido só podia namorar em casa com a vigilância de meus pais. Sabia também que já estava “metida” em compromisso sério, pois não podíamos correr o risco de ficar mal faladas no bairro.
Casei e vim para a cidade “grande” à procura de uma vida melhor, uma oportunidade de emprego. Morei um tempo na cidade de Canoas e, mesmo trabalhando, sofríamos com as prestações do aluguel, pois a família foi crescendo e as despesas também. Então surgiu a oportunidade de comprarmos uma casinha em São Leopoldo; assim vim morar no bairro Cohab. Lembro-me de que quando cheguei aqui as pessoas falavam que este lugar tinha sido um grande cemitério. Alguns moradores ficavam assustados, porque coisas estranhas aconteciam em suas casas. Até hoje, quando contam “causos” de assombração, sempre tem alguém que lembra da história do cemitério e dos tais fantasmas que assombravam suas casas. Fui me apegando a este lugar e enfrentando os fantasmas da vida. Quando relembro São Leopoldo me emociono muito.
Minha casa era pequena e não tinha conforto. Os mercados eram distantes, as paradas de ônibus exigiam longas caminhadas e os horários de transportes eram restritos. Minha história foi se transformando dentro de minha São Leopoldo. Hoje posso dizer que moro no maior bairro da cidade conhecido como “Grande Feitoria”. Há um comércio em cada esquina, posto de saúde e escolas espalhadas pelo bairro. Hoje São Leopoldo nos enche de orgulho com suas riquezas culturais e históricas: Casa do Imigrante, Unisinos, ( Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Santuário Padre Reus, e até o trem que aqui já chegou. Claro, o progresso também tem suas consequências. Fico triste quando ouço falar da poluição do rio dos Sinos. Lembro-me dos velhos baldes d’água e da felicidade que temos no simples ato de abrir a torneira. Ao voltar no tempo, penso que mesmo na dificuldade minha vida sempre foi regada por momentos bons. Nesse vale vivo realizada. Sou uma senhora feliz, que entre baldes e fantasmas construiu sua vida.
Peço ao nosso querido Padre Reus que me dê muitos anos ainda para que eu possa seguir crescendo com essa cidade, e quem sabe um dia uma menina querida escreva nossa história.

(Texto baseado numa entrevista feita com a sra. Marinalda da Silva de Oliveira, 57 anos)

1° LUGAR MUNICIPAL SÃO LEOPOLDO – POEMA O lugar onde eu moro

E.M.E.F.PROFª DILZA FLORES ALBRECHT
Yasmin Maria Martins – 5ª série
Professora Márcia Andrea da Costa Gomes

O lugar onde eu moro

No lugar onde eu moro
Tem gente trabalhadora
Tem gente valente
Tem gente corajosa
E também estudiosa

No lugar onde eu moro
Tem pequenos brechós
Tem grandes lancherias
Tem mercados e padarias

No lugar onde eu moro
Tenho vizinhos magros
Tenho vizinhos gordos
Tenho vizinhos diferentes
Mas também contentes

No lugar onde eu moro
Tem cães na rua,
Tem gatos nos telhados
E pessoas dormindo no chão

No lugar onde eu moro
Tem brigas,tem barracos
E até fiascos

No lugar onde eu moro
Tem pessoas com dificuldades,
Tem pessoas com maldades,
Mas também com bondades

No lugar onde eu moro
Tem casas grandes e pequenas
Tem casas com rachaduras
Tem casas velhas e casa novas

O lugar onde eu moro
Fica em São .Leopoldo, no Vale dos Sinos
É a Cohab Feitoria
Um bairro que eu adoro
Mas precisa de melhorias

1° LUGAR MUNICIPAL SÃO LEOPOLDO – MEMÓRIAS LITERÁRIAS Memórias de um bairro

E.M.E.F.PROFª DILZA FLORES ALBRECHT
Raquel Bueno – 8ª série
Professora Claudete Vargas da Silva


Memórias de um bairro

Fazendo um texto para a escola eu pedi: “vó, me conta a tua história pra eu poder contar a minha”. E ela me contou histórias que eu pouco conhecia.
Nascida em 1954, Lourdes teve uma infância curta e sofrida como muitas pessoas de sua época,no interior. Em 1975, casou-se com Pedro.
Dois anos depois com a filha doente, mudaram-se para São Leopoldo, em busca de tratamento, e felizmente aqui meus avós conseguiram salvar minha mãe da meningite.
Em 1982, quando estavam cheios de planos, minha vó grávida de seu segundo filho e morando de aluguel, surgiu a oportunidade da casa própria, com a construção da Feitoria Cohab, “muitas vezes, visitávamos as obras, sonhando com nossa casa própria”.
Neste mesmo ano, conseguiram a casa e mudaram-se, “nossa casa só tinha dois cômodos e um banheiro, mas era nossa”,contou ela com os olhos brilhando.
Ela lembra que as pracinhas novinhas, onde levavam as crianças para brincar até altas horas da noite, sem se preocupar com o perigo, sem medo de assalto ou de qualquer outro tipo de violência, ”havia poucos moradores nas casas, e os apartamentos ainda eram completamente desabitados”.
Em 1987, a Cohab começou a mudar, infelizmente para pior: uma enchente muito grande no Bairro Campina deixou muitos desabrigados, e os apartamentos vazios e inacabados foram invadidos pelas famílias atingidas. A partir daí cada morador foi articulando sua moradia como melhor lhe agradava, para acomodar uma família cada vez maior. E os apartamentos foram perdendo suas características de condomínio e tornando-se algo parecido com um labirinto.
A Cohab das pracinhas novinhas, tornou-se um lugar praticamente um lugar impossível de se frequentar, pois a delinquência tomou conta de nosso bairro, hoje em dia a Cohab é quase sinônimo de delinquência.
Hoje, nossa vila é assim: onde tínhamos a esperança de um lar, temos a vergonha de morar, pois quando vamos a uma loja, sentimos o preconceito no olhar das pessoas, quando damos nosso endereço.
Depois de vinte e sete anos e várias histórias, o que temos ao nosso redor é uma legitima Cohab, a Cohab da nova geração, mas onde existem muitas pessoas de caráter com historias sofridas, baseadas na certeza de transformar uma casa ou um apartamento em um lar, como fez minha vó Lourdes.

1° LUGAR MUNICIPAL –SÃO LEOPOLDO - POEMA Os becos escuros no lugar onde eu moro

E.M.E.F.PROFª DILZA FLORES ALBRECHT
Gabriel Machado dos Santos - 4ª série
Professora Daniela Correa da Silva

Os becos escuros no lugar onde eu moro


Onde eu moro
Tem uma tristeza
Um beco.
Perto da minha casa
Quase toda a noite é tiroteio
Nem sempre alguém se escapa

Escurece
Levo o lixo
Todo mundo
Preso em casa
Aí começa o tiroteio
Volto correndo pra minha morada

Tanto medo da violência
É um trá-tá-tá
Até quase de manhã
Com o dia já a raiar
Finalmente a polícia chega
-Será que agora vai sossegar

O zum-zum-zum da criançada
Na frente da escola
Anuncia um novo dia
Para brincar e estudar
Cidadãos gentis e legais
Muitos mercados, praças e até a UBAM para
Nos ajudar.

Felicidades...
Também encontro cá
Modestos
Circos e parques
E outras belezas
A Cohab com seus blocos e becos
Sabe contagiar

Quando o Sol aparece, os becos desaparecem.